11 de julho de 2008

Silêncio, e já!

Ouço vozes à minha volta. Muitas, incessantes. Ocupam todo o espaço sonoro, sem deixar um bocadinho em paz. Uns em murmúrio, outros a falar acima de todo o burburinho para terem a certeza de serem ouvidos. E por baixo de todas as vozes humanas, uma "música de fundo".

É a praga dos dias de hoje, a "música de fundo". Nos restaurantes, supermercados, cafézinhos de bairro, centros comerciais, lojas, elevadores, praias, parques, repartições públicas, até na rua. Alguém deve ter chegado à conclusão de que o silêncio é mau, e tem de ser combatido a todos os custos. Com música de fundo. De gosto duvidoso, ou nem por isso...

E como é natural, as pessoas querem falar. Têm de levantar a voz para serem ouvidas acima da "música de fundo". E acima das outras vozes que querem ser ouvidas acima da música de fundo. E dos sons de fundo que a música não abafa - bater de pratos, chincalhar de talheres, passos, arrastar de cadeiras, trânsito, etc. Mas abafa sons agradáveis como o chilrear dos pássaros ou o suave murmurar do oceano...

Fala-se tanto em poluição, nos lixos, esgotos, partículas em suspensão, pólens, contaminação de terrenos, and so on, e de poluição sonora, nickles. É dos problemas maiores que afectam o ser humano. A exposição a ruído excessivo causa níveis de stress altíssimos, surdez, irritabilidade, entre outros. E diminui a qualidade de vida.

E não é só o barulho do vizinho de cima que ouve televisão a altos berros, ou o do prédio em frente que gosta de dar festas para a vizinhança ouvir. É o barulho constante que já nem notamos, mas que tem aumentado de intensidade, persistência e decibéis. É a "música de fundo". Em todo o lado e a altos berros. E que os empregados se recusam a desligar ou a baixar o som.

Um dia destes passo-me de vez, arranjo uma caçadeira e começo aos tiros às colunas de música de fundo. Já que não se pode desligar ou baixar o som, eu resolvo o problema... E duvido muito que protestem contra uma tresloucada de caçadeira na mão que a sabe utilizar.


16 comentários:

Rocket disse...

por acaso...3 episódios:

no outro dia, num lugar supostamente acolhedor para ter uma conversa durante o dia, tive de abandonar o local porque a mesma não era possível...os empregados estavam a curtir um som...

na esplanada do ginásio, calmíssima, sempre, um aparelho de limpeza mais barulhento que o apocalipse fez-me pensar nisso tudo...

o pior de todos foi o facto de estar quase a sacudir o pó das trombas de três gajos que não falavam-gritavam-numa mesa de esplanada e obrigavam a malta toda a afastar-se algumas...só ouve uma ameaça da minha parte e ainda bem...não me dava jeito nenhum um processo legal, nesta altura...

beijinhos maguinhos

Patti disse...

E nas lojas de roupa? É uma gritaria de bandas que ninguém se entende.

Anónimo disse...

Deixei de entrar na Berska com as minhas "saloias", por causa da música de fundo. Aquilo não é música de fundo. Aquilo é música para mandar para o fundo o Titanic.
Há dias estive para recusar um convite para jantar no "Marginalíssimo", em Paço D'Arcos, por me terem gabado a célebre música de fundo com que acompanham o fondue.
Será que já não se pode jantar sem os gritos dos clientes para os empregados (e vice-versa), sem a música de fundo e a tão banalizada música ao vivo, tão do gosto dos "churrascões" e outros "ões" que apareceram há meia dúzia de anos e trocaram a restauração tradicional portuguesa, pelo rodízio, a picanha ou a maminha?

Maria Manuela disse...

Como eu te entendo...Não suporto pessoas que falam a gritar, que atendem o telemóvel em pleno restaurante e fazem questão que toda a gente oiça a conversa, de gente que não sabe viver em apartamentos e tudo e tudo. Uma boa notícia no meio disto tudo: afinal há mais gente como eu e não não sou bicho do mato e afinalnão estou à beira de um esgotamento...eheheheh


Eu sou daquelas que precisa mesmo muito de silêncio ....

bjos

Anónimo disse...

Eu tenho uma teoria um bocado tosca para justificar a existência dessa "música de fundo". Já reparou naqueles casais que passam uma refeição inteira quase sem trocar uma palavra, ou se sentam numa esplanada a beber um copo com os olhares distantes, ignorando-se mutuamente?
Essa música justifica-lhes o silêncio e vai adiando a decisão de se separarem...

Anónimo disse...

O que me chateia mesmo é ruido de fundo na praia, musica alta nas refeições e música nos telemóveis.

Magucha disse...

Rocket,

Esses três episódios soam-me familiares... Se bem que o equivalente do terceiro episódio foi na sala de espera do hospital da Luz. Uma pitinha torceu o pé, e o resto do grupo foi fazer conversa de bar na sala de espera. Nunca tive tanta vontade de partir uns pescocinhos (à filme) como nessa altura...

Jinhos

Magucha disse...

Patti,

Bem lembrado! Há lojas de roupa, especialmente para teenagers, em que não sei como as empregadas não estão completamente surdas...

Jinhos e goza bem as férias!

Magucha disse...

Pravariar,

Já estive mais longe de efectivamente colocar tampões nos ouvidos antes de entrar na Berska. E lojas do estilo, que têm magliete muito giras, mas música mais alta que em algumas discotecas... =)

Bem lembrado, a musica ao vivo nos restaurantes... Será para distrair os clientes da qualidade da comida? Prefiro que seja o prato a cantar para mim! =)

Magucha disse...

M&M,

Bem-vinda de volta, já estava com saudades! =)

Temos de formar um clube anti-musica ambiente! Com direito a blog dos restaurantes e locais sem musica ambiente (tipo os blogs com restaurantes e locais que aceitam fumadores). Eheheheheh!

Também preciso muito de silêncio. Silêncio e espaço. Noutro dia comprei daqueles ascultadores que abafam o ruido de fundo - são fantásticos para ouvir o podinho sem ensurdecer.
Jinhos

Magucha disse...

Carlos Barbosa de Oliveira,

É uma teoria interessante. Isso quer dizer que a música ambiente está a ser apoiada pela industria do aconselhamento matrimonial? ;-)

Magucha disse...

Miguel.com,

E as zonas da praia em que se ouve musica de fundo distorcida de dois bares rivais? Aaaaahrg! Dá vontade de pegar na máscara e ficar debaixo de água até saltar a electricidade com tanto watt!

Anónimo disse...

Realmente, o silêncio escasseia e faz falta. Demasiados sons à nossa volta.
Obrigada pela visita.

Anónimo disse...

concordo!
é dificil encontrar o silêncio!!
bjs
Mana

Magucha disse...

Yashmeen,

Cada vez mais é um bem precioso e escasso, o silêncio...

Jinhos e volta sempre!

Magucha disse...

Mana,

Na falta de silêncio, o podinho é essencial para pelo menos se ouvir um barulho mais agradável!

Jinhos nanicos!