16 de maio de 2008

Mau feitio

Mau feitio. Conhecem a expressão?
Precedam com um "Hoje estou com", e pelo meio coloquem um "muito". Foi assim que acordei. E me mantive durante a viagem para o emprego - esta musica não serviu para me acalmar muito, preferia ter tido esta a jeito.

Em que se traduz eu estar com muito mau feitio? Não, não desato aos berros com a primeira pessoa que apanho, não sou mal educada com ninguém (até porque acho que não há nada que justifique ser-se mal educado com seja quem for), nem sequer andei de trombas a tratar toda a gente aos pontapés.

Simplesmente deixo de ter paciência e/ou tolerância para com erros e abusos, e se fazem algum comentário mais infeliz ou provocatório acabo por dizer exactamente o que me vem à cabeça. Ou seja, não deixo nenhum espertinho cortar à minha frente no trânsito, não tenho safar alguém de sarilhos em que se meteu sozinho, e coisas no género. E o que me vem à cabeça a maior parte das vezes traduz-se num comentário mordaz, certeiro e dependendo da situação, cruel.

Chegei ao trabalho, cumprimentei os colegas com um sorriso como sempre, falei com o chefinho e tentei resolver a última embrulhada que apareceu do nada no projecto a meio do qual comecei. Felizmente não estava lá a colega da qual herdei o outro projecto, ou não sei se conseguiria manter o meu mau feitio silencioso. Troquei dois dedos de conversa com o colega italiano, que tinha substituido o café da máquina por um da nicarágua que tinha trazido, e ajudei-o a traduzir para português o texto simpático que ele tinha feito para anunciar a mudança de café e o facto deste ser grátis. O comentário que recebi quando voltei com uma chávena de café (em vez dos copos de plástico que praticamente todos usam) serviu para me animar. "Sei la migliore di tutti". Detesto tomar café em copos de plástico. A máquina de café não é daquelas que cospe obrigatoriamente um copo de plástico. Logo, trouxe uma chávena de café de casa, para poder tomar o meu rico cafézinho como deve ser tomado. Um gesto apreciado por alguém com a cabeça no lugar.

Cheguei à conclusão, sem sombra de dúvidas, de que detesto o que estou a fazer agora. Abomino estar com a parte final de dois projectos, a aturar as chatices com que contava, e mais umas quantas que já deveriam ter sido resolvidas há séculos, mas que saltaram para fora só para me queimarem. (Ou tentarem queimar, que eu tenho reflexos rápidos e alguma imunidade ao calor.) Do grupo de cerca de 20 pessoas, só gosto de meia dúzia delas, que por acaso até são as que acho competentes. Começa-me a fazer espécie a falta de método, e estar cada equipa a acudir a qualquer um dos projectos consoante qual estiver mais próximo de um prazo, em vez de estar uma pessoa responsável por um projecto do início ao fim. E finalmente, acho frustante não terem sido tomadas em consideração a minha opinião e estratégia para o projecto herdado, que fariam evitar muitos dos problemas que tinha previsto há meses e que agora estão a aparecer por magia.

Os projectos estão a acabar. Não sei se haverá dinheiro para me manterem, mas desconfio que não vou querer ficar. A não ser que surja algum projecto de que goste muito, mas muito mesmo. E acho que vou ter de ser mais escorregadia que uma enguia para não levar com as consequências de erros cometidos muito antes de eu ter entrado para a equipa.

Não sei o que o futuro me reserva. Conhecendo-me, e o meu percurso de vida, só posso concluir que será inesperado. E que as coisas se vão compôr no fim.

Alea jacta est.

2 comentários:

Rocket disse...

estive a ler com atenção.
o mundo é dos medíocres. sendo boa, o que vejo que és, és uma ameaça. mas muitas vezes não se requerem soluções boas, mas medíocres, com uma makeupzita...

os medíocres são excelentes na maquilhagem...

força!

um beijinho

Magucha disse...

Rocket,

O mundo é tão dos medíocres que às vezes fico desanimada e a achar que quem está mal sou eu. Mas depois sacudo a cabeça, e lembro-me que quem está mal são eles - o resto do mundo. Depois de ter chumbado a um exame por ter seguido a voz da maioria, em vez da minha (que era completamente oposta, e a única a estar certa) aprendi. Ainda tenho momentos de hesitação, mas começam a ser cada vez menos.

A maquilhagem às vezes está tão mal feita que se vê a milhas sem ser preciso binóculos. Tenho que me relembrar de que o que para mim é fazer o mínimo dos mínimos, para muito boa gente é demasiado trabalho.

Obrigada pelo apoio.

Jinhos