22 de dezembro de 2007

É Natal! Vamos albaroar os outros!

Estava a voltar para casa, depois de fazer algumas compras de Natal, e de comida, tentando fugir do supermercado que estava a ficar alarmantemente cheio de pessoas apressadas a queres a todo o custo passar através dos outros. Não é passar à frente, é mesmo através dos outros - a pressa e o frenesim natalício é tanto que nem podem dar a volta à pessoa/carrinho de compras/pilha de coisas que estão à frente. E falharem as paredes e os escaparates de compras já é uma sorte!

Enfim, sai do supermercado incólume, e do parque de estacionamento sem grandes problemas, e até conseguir passar para a fila dos carros que NÃO queriam entrar no supermercado sem grandes problemas. Só que havia trânsito. Muito.

Suspiro, e tento lembrar-me dos atalhos a que o meu pai desde cedo me habituou. A estratégia de ir para onde os outros carros não estão, e depois de passado o pior tentar encontrar a estrada certa, nunca me tinha falhado. Que me lembre. (Enfim, isso também não interessa nada.)

Lá vou dar a uma estrada secundária com duas faixas, e sigo toda contente atrás de um jipe na faixa da direita. Apercebo-me que um pouquinho mais à frente há a junção com outra estrada do lado direito, mas fico convencida que a minha faixa continua a existir (graças ao jipe que me tapou a visibilidade). Assim que reparo que há um estreitamento, chego-me à faixa da esquerda, aproveitando um espacinho que o condutor da outra faixa deixou, e agradeço. Pensando que a situação desse lado estava resolvida, concentro-me em evitar o autocarro que me está a querer apertar na (nova) faixa da direita.

Quando olho para o lado, apanho um susto do caraças. O carro que eu achava que me tinha deixado entrar, resolve tentar albaroar-me, com um ar furioso. A esposa do casal de meia idade põe-se aos gritos comigo "não há pisca? Não há pisca?" com um tom tão alto que, com os vidros de ambos os carros fechados, e eu com o rádio ligado, a consegui ouvir perfeitamente. Não contentes com a proeza, aceleram e batem com o espelho deles no meu!

O descaramento! Fiquei furiosa como raramente fico, com uma vontade enorme de sair do carro e partir o carro deles todo pela falta de educação e respeito!!! É o meu carrinho novo!!! Estamos n(a porra d)o Natal!!! Não é suposto ser uma época de paz e boa-vontade entre os Homens?!? Ainda por cima, os ca...ramelos queriam passar para a faixa da direita!!! A sorte deles foi a carrinha que ficou à minha frente os ter deixado passar, senão ia haver bronca da grossa! Logo eu que costumo fazer de tudo para não estorvar o transito, e raramente buzino! Aliás, a maior parte das vezes nem consigo encontrar a buzina a tempo!

Enfim, assim que me acalmei (e custou!), este episódio fez-me pensar no Natal, e no seu significado. Sim ,sim, toda a gente fala na paz e boa vontade, as prendas e o crescente materialismo, a comida , as decorações iluminadas e parafernália do género. E ouve.se sempre dizer que o Natal já não é o que era, que as pessoas estão cada vez mais materialistas e egoístas, bla bla bla...

Na realidade, o que se passou não foi muito poético. Numa cidade a abarrotar por causa do recenseamento, um casal com a mulher muito grávida tenta encontrar um sítio para come e descansar, e guarida para passar a noite. Ninguém teve compaixão por eles, e deixaram-nos rumar à deriva na noite do deserto, com fome, frio, exaustos e ainda sem se terem recenseado. (ou seja, com a perspectiva de uma seca monumental no dia seguinte). O único sítio que encontraram para o tão ansiado descanso foi um estábulo com uma vaca e um burro. A pobre da Maria, depois da longa viagem a pé, e do esforço todo, entrou em trabalho de parto sem a ajuda de ninguém. Por sorte, um Sol entrou em supernova, destruindo o que restava daquele sistema solar e eventuais planetas habitados, e iluminando melhor o céu da Terra, permitindo que se visse o bebé a nascer. Tiveram que se enroscar nos bichos para não congelar, com o bebé sem roupinho e limpo mal e porcamente com a palha que estava à mão. Tiveram de esperar duas semanas para que chegassem os reis magos com antibiótico e antisséptico (incenso e mirra, por isso é que eram tão valiosos na antiguidade), e uns trocos para eles poderem voltar para casa. Ah, sim, e quando chegaram os reis magos, o povo todo que os tinha desprezado apareceu para adorar o menino. Se calhar um bocado de apoio antes teria dado jeito, não?

Pensando bem, depois do tratamento que a Maria, o José e o bebé Jesus tiveram das pessoas da época, os ca...ramelos de hoje em dia não são muito piores. Infelizmente, também não são muito melhores, mas há raras excepções.

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