30 de julho de 2007

Por que estamos na cauda da Europa...

Vi hoje no telejornal que houve um acidente de comboio na linha do Douro, devido a um aluimento de terras. Houve dois feridos (os maquinistas), e se o acidente tivesse sido uns metros mais à frente ou mais atrás, o comboio só parava no Douro.

Fiquei indignada! Acham isto bem?!? Um acidente de comboio, e não há mortos, nem descarrilamentos com consequências desastrosas, nem salvamentos espectaculares!

Uns exemplos:
2006-08-22 - Espanha "acidente de comboio (...) provocou seis mortos e 36 feridos. Depois de descarrilar, a composição embateu numa ponte que atravessava a linha do comboio, destruindo-a parcialmente."

2006-09-22 – Alemanha “Vários mortos em acidente com comboio magnético suspenso na Alemanha. "Houve mortos, mas ainda não sabemos quantos". O comboio não tripulado, que seguia a 200 quilómetros por hora, embateu num objecto não identificado. As equipas de socorro deslocaram cerca de 150 efectivos para o local, mas o desencarceramento dos passageiros estava a ser dificultado pelo facto de o comboio não estar ao nível do solo, mas sim tombado sobre o trilho magnético.”

2006-10-31 - Bangladesh “Acidente com comboio mata pelo menos duas pessoas e cerca de 50 outras ficaram feridas devido ao descarrilamento, de um comboio próximo da cidade portuária de Chittagong, no Bangladesh. Fontes oficiais da companhia de caminhos-de-ferro indicaram que as cinco últimas carruagens da composição saltaram dos carris na localidade de Sitakunda.”

ATÉ O BANGLADESH ESTÁ À NOSSA FRENTE!!!! Não admira que estejamos tão atrasados... Noutros países europeus os acidentes de comboio são coisas à séria, com feridos a rodos, mortes, sangue e miolos para as televisões mostrarem e ganharem umas boas horas de noticiário a discutir se é ético mostrar essas imagens, e acusarem-se os outros de serem menos éticos do que eles.

Vamos lá a atinar, que para sermos um país à séria, temos de ter acidentes em grande, com consequências dramáticas! Senão nunca mais tomamos consciência de que os acidentes de comboio são coisas graves, que matam pessoas, e que a manutenção de infraestruturas não é uma coisa secundária a cortar sistematicamente dos orçamentos porque não se fazem inaugurações de obras em manutenção.

Numa nota mais séria, é pena, mas o mundo é mesmo assim – se não houver mortos, quem gere o dinheiro não vê a necessidade de reparar uma coisa que “funciona há 30 anos, deve durar mais uns 30…” Façam as contas.

Quantas pessoas tiveram de morrer na queda da ponte de entre-os-rios para se reverem as condições de outras pontes, e se fiscalizar a extracção ilegal de areias?

Quantas pessoas tiveram de morrer atropeladas antes de se construírem pontes aéreas em locais perigosos de atravessar?

Quantos bombeiros e civis tiveram de morrer para se levar mais a sério a gestão e protecção das florestas? ( e neste ponto, se calhar não foram suficientes…)

Os mortos contam. Os feridos, não. A nossa maldição, como país, é que os acidentes que podiam ser desastrosos, correm espantosamente bem e só há uns quantos feridos. Como dis ao ditado, “ao menino e ao borracho, Deus põe a mão por baixo”. Só não sei se somos meninos ou borrachos…

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